BRASIL DAS GERAIS


Diretor: Carlos Henrique Sampaio Moreira | Elenco: | Produtor: Dayse Fernandes Carlos Moreira | Figurinista: Carlos Moreira | Iluminador: Renato Freitas Cordeiro | Coreógrafo: Carlos Moreira | Bailarinos: Adalice Barbosa, Aline dos Santos, Alexsander Magalhães, Alysson Santos, Brian Neves, Carlos Moreira, Camila Oliveira, Corina Breyner, Cristiane Mateus, Douglas Mateus, Dayse Neves, Érica Dias, Fabrícia Elaine, Felipe Muniz, Grazielle Lizanias, Guilherme Ferreira, Graziella Aguiar, Leonardo Lobato, Luciana Glayça, Luiz Prata, Mariana Silva, Marcos Aurélio, Maria Cecília, Naomy Santiago, Nathália Moreira, Nayara Alana, Naomy Neves, Rayane Lígia, Renato Caran | Trilha Adaptada: Grupo Guararás | Técnico: Luiz Prata | Site: www.grupoguararas.xpg.com.br |


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"Uma dança feita de raiz e coração".


Eu vou tentar escrever minhas observações sobre este espetáculo contendo a minha empolgação. Uma empolgação que fui tomado porque foi um espetáculo de encher os olhos. Encontrei o palácio das artes lotado de pessoas para assistir um espetáculo de dança folclórica brasileira. Julguei este fato como muito importante, porque percebo a tendência da valoração excessiva daquilo que é novo, contemporâneo, futurista ou que vem importado de outras culturas em detrimento das tradições brasileiras.


O espetáculo começa com um elemento essencial. As bonecas. Uma preta, como boneca de pano e a outra branca, como boneca de louça, reafirmando a diversidade do nosso povo. Com uma narrativa divertida e porque não dizer, emocionante, estas personagens contam a historia de cada uma das danças, não só contextualizando, mas organizando, atribuindo cores e imagens, elementos históricos e emocionais para cada apresentação que se seguia. Isso foi de uma importância capital, porque eu particularmente ao assistir uma dança folclórica não compreendo bem o que significa de tudo aquilo. Esta intervenção atribuiu valor e dignidade para cada coreografia que foi apresentada. Essas bonecas deram um brilho especial a tudo que aconteceu.


Por falar em coreografia outro aspecto me chamou a atenção. Não vi no palco bailarinos, ou dançarinos, ou atores performáticos. Eu vi gente dançando. Gente. Isso me bateu tão forte uma hora que chorei um pouquinho. A técnica dos bailarinos clássicos ou contemporâneos tem seu lugar, mas o que vi ali foi algo que é bem mais próximo da realidade do povo. Até porque aqueles movimentos vêm do povo mesmo, embora com uma excelente elaboração artística para se tornar um espetáculo. Não pensem que com isso estou diminuindo as habilidades de quem estava ali dançando, pelo contrário, estou querendo dar o real valor que a dança popular tem e o quanto ela é rica e maravilhosa.


No palco aquelas pessoas demonstravam tanta energia, mas tanta energia que alguns fechavam os olhos e cantavam a musica e então fui percebendo o enorme valor daquilo tudo. Tinham sorriso no rosto e se divertiam muito ao dançar. Trocavam olhares e até conversavam  e quando se sentiam mais animados davam uns gritos que não tenho dúvidas que vinham de dentro pra fora. Gosto de pensar nisso, a dança pela dança, pelo que ela significa. Não era uma repetição coreográfica, eram gente dançando. A dança foi muito bem explicada pelas bonecas: Bate o côco, pega o siri, coloca na bacia; bate o côco, pega o siri, coloca na bacia. Simples assim.


Houve vários momentos emocionantes, mas vou citar um exemplo. Na dança das fitas, estas se embolaram todas no mastro. Problema? Que nada, generosamente os que já tinham as suas próprias fitas, retornaram ao centro para ajudar os companheiros e num clima de cooperação tão forte, que o nervosismo de quem estava tentando solucionar o problema deu lugar às palmas do publico no ritmo da música. Se era parte ou não do espetáculo, tanto faz. Quando as fitas foram soltas, o publico gritou junto com todos. Arrepios.


O publico se sentiu tão parte do espetáculo que interagiam de forma espontânea, falando, rindo, crianças dançando no meio do corredor e velhinhas acenando para algum dos dançantes cada vez que entravam no palco. Até porque, quem estava no palco apenas carregando um estandarte, estava tão imerso no clima, que aquele estandarte era como se estivesse carregando um tesouro. Quando entrou nossa senhora sendo carregada, Algumas pessoas entraram ao meu lado em certa comoção e mesmo que eu, que não sigo nenhuma religião, mas sei muito bem o valor da religiosidade, não me contive e chorei mais um pouquinho. E ainda gritei “Viva”....


O figurino deste espetáculo é belíssimo. Eu particularmente dou muito valor à utilização na dança do mínimo, para que a dança não precise de muita coisa para sustentá-la além do corpo. Mas nesse caso o figurino é parte da história, da cultura e não pode faltar cada detalhe, cada cor, lenço, fita, instrumento, tonalidades, saias rodadas ou chapéus. As roupas dançam também. E cada uma ali sabia muito bem levar seu figurino para dançar, como um ente, como um personagem que fazia parte do seu próprio corpo.


Pensei no quão pouco investimos em aprender nossa própria dança. Que a dança está na raiz da nossa essência cultural e que valorizamos muito aquilo que vem de outros lugares. A interlocução cultural é louvável, a dança faz parte da humanidade e então toda dança é boa.


Mas acho que aquele pajé tão contado durante o espetáculo, deveria vir junto com as bonecas para fazer uma dança mágica ao som dos nossos tambores, para ressuscitar no coração do brasileiro sua raiz. Para que a dança popular caia de novo em nossos braços, mexa nossas pernas e ponha um ritmo propriamente nosso no bater do coração.




Fabio Teixeira


Fabiozen.blogspot.com

Comentários

José Maurício disse…
Muito emocionante o espetáculo e o seu texto, que contextualizou o meu sentimento. Parabéns!
Unknown disse…
Eu disse a um dos integrantes ontem, e vou postar aqui: Eu não escrevi uma história.. eu apenas tentei transcrever a historia que o grupo apresentou maravilhosamente no palco.. o maior mérito é deles.

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