Velório à Brasileira

Algumas observações após assistir o espetáculo “Velório à Brasileira".

Elenco: Autor: Aziz Bajur | Diretor: Pádua Teixeira | Assistente de direção: Verônica Tannure | Elenco: Alinne Lacerda, Beth Grandi, Bruno De Moura, Cidah Viana, Geraldo Peninha, José Maria Mendes, Luiz Henrique Moura e Raimundo Farineli Stand By Bner Caduah |


“Como o sofrimento pode se transformar em risos”.

A morte é sempre um assunto difícil. Não é apenas um tipo de perda, mas ela parece ser a perda definitiva. Aparentemente não há retorno ou reparação sobre aquilo que se perdeu. Não efetivamente, embora muitas crenças possam existir sobre a continuidade da vida espiritual ou metafísica, ou até mesmo que as obras deixadas em terra possam suprir a existência de quem faleceu.

Penso que cada pessoa enfrenta a morte de maneira diferente. Parece-me que isso deixa bem claro que a morte não tem um sentido definitivo, mas antes, um sentido construído por quem está vivo. Frente à situação fatídica, cada um constrói sentidos diversos de acordo com o valor que possui para quem se perdeu ou mesmo para o contexto global da perda.

Ao estar em presença da morte, as próprias crenças sobre a vida são colocadas em cheque.

Ao assistir a peça Velório à Brasileira, me deparei exatamente com esta situação. Na medida que a trama se constitui, mesmo envolvida num tom divertidíssimo e contemporâneo, não pude deixar de perceber a angústia e o desespero que cada personagem mascarava com o riso.

A esposa a princípio chorosa pelo marido sofre mais com a possibilidade de ser uma mulher traída do que com o falecimento. A irmã de Abreu, mesmo sendo uma moça jovem e bela, ainda é virgem e solteirona. O amigo da repartição é pobre e gordo. A vizinha faz troça com a vida dos outros e com a própria vida sexual insatisfeita. Edgar tem de se esconder por detrás do pseudônimo para manter seu relacionamento amoroso longe do preconceito. Uma parte da vida de cada personagem sofre pequenas mortes, pois não pode ser vivida em sua plenitude.

Ao serem explicitadas de forma cômica, esquecemos do sofrimento oculto que elas trazem para quem as vive. O público pode fazer uma ponte da sua história pessoal com cada temática abordada e isso é a maravilha da mensagem que o teatro possibilita. Ver no palco de forma transformada, o sofrimento se tornar alegria.

Quando surge o reconhecimento do prêmio da mega sena, isso serve como a solução para todas as situações individuais. A morte passa então a ser aceita como o marco para a existência de uma nova vida. Toda a vida miserável seria deixada para trás e então abraçariam o futuro junto à fortuna adquirida.

Perder o prêmio da mega-sena constituiria mais uma morte, a morte dessa vida tão sonhada, desejada, e é impressionante como isso se torna desesperador, porque é muito difícil deixar uma idéia morrer, uma idealização.

As idéias sobre o futuro é que mantém os vivos, vivos.

Assim, os atores de forma agradável,  contam sobre esta característica humana. Sobre suas formas de aplacar a dor com o seu extremo oposto, a chance de uma nova vida.

Fabio Teixeira


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