Adorno


Adorno


Diretora: Suely Machado | Produtora: Regina Moura | Cenógrafo: Guile Seara | Figurinista: Ronaldo Fraga | Iluminador: Jorginho de Carvalho | Estudo do Movimento: Alex Dias | Bailarinos: Alex Dias, Marcela Rosa, Danny Maia, Lucas Resende, Pablo Ramon, Ana Virginia Guimaraes, Verbena Cartaxo, Verônica dos Santos | Trilha Original: Lula Ribeiro e Marco Lobo | Cenotécnico: Roberto Duque | Vozes ao vivo: Titane e Mauricio Tizumba | Técnico de luz: Elias do Carmo | Sonoplasta: Fabricio Galvani | Site: www.primeiroato.com.br |




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“Cada encontro é a prévia para uma despedida”.


Ao tocar o terceiro sinal para iniciar o espetáculo “Adorno”, minha companheira me perguntou ao pé do ouvido – você leu a sinopse? Esta pergunta me deixou pensativo porque fui a um espetáculo sem nenhuma expectativa, sem fazer a menor idéia do que iria assistir. Apenas com o intuito ingênuo de assistir algo que me tocasse o coração.


Um céu virtual sobre um cenário dividido. Achei isso tão marcante, pois de forma gestáltica o céu apresenta uma continuidade, mas aparecia refletido em três painéis divididos em planos diferentes. Numa impressão prévia, pensei ser o momento situacional o mesmo, enquanto cada um teria um céu próprio, de acordo com o plano que se encontraria. Algo de solitário já se apresentava em meus olhos.


Metáforas à parte, a música que se segue tocada com instrumental e vocal maravilhoso trouxe um aspecto de divino para este céu virtual. Eu já tinha ficado satisfeito com o espetáculo neste instante, poderia mesmo ter ido embora feliz.


Personagens dançam sobre um dia virtual dando prováveis traços cronológicos às intervenções. Figuras que constroem seu espaço em movimentações aparentemente isoladas, onde cada encontro é a prévia para uma despedida. Cruzam-se, se tocam eventualmente, mas a cada mudança de cenário,  despedem-se sumariamente de cena. Nada seriamente triste ou desolador, mas algo como a casualidade dada pela solidão que cada um se impõe sob o céu que lhe pertence.


Pequenos encontros acontecem num abraço andante enquanto outros entram em disputas por acontecer. Um certo ar fugidio da heterogeneidade escapa quando os contatos menos fugazes são sempre entre seres dançantes do mesmo sexo. Quando já rastejando o homem chega a ficar aos pés da bailarina, apenas consegue debater-se desesperado com os restos de uma saia descartada.  Nem sequer um olhar consegue. E quando num esforço quase que hipnótico, tal qual uma marionete alguém consegue pequenos, beijos, o abandono que se segue é fatídico.


Ao findar o céu noturno retorna com estrelas e meteoros virtuais. Como antes. Separados. Esmaece a luz sob um homem que cambaleia atordoado e sozinho.




Foi isso que ficou ao assistir algo sem expectativas. Um lindo espetáculo de dança, mas não posso deixar de reafirmar que a música cantada trouxe algo de maravilhoso, e que algumas vezes não só compunha o espetáculo, mas era um espetáculo à parte.




Fabio Teixeira

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