A fábula do planeta Mônada




A Fábula do planeta Mônada


            Esta fábula é o relato de uma catástrofe que aconteceu num planeta distante. Somente agora entendemos e, por isso, é nesse momento que a transmitimos a todos, como foi desejo dos sobreviventes...          

Numa galáxia distante, num planeta chamado Mônada, existiam seres bem diferentes de nós, é claro. Eram os Egs. No planeta só existiam duas aglomerações: Somorra e Godoma, onde moravam os Egs. Entre eles havia uma espécie de casta. Os Egões eram a minoria e de várias maneiras dominavam os demais, os Eguins. O que distinguia as castas, uma das outras, era a quantidade de um material abstrato chamado Din, que todos no planeta eram condicionados a juntar, desde pequenos.

Uma das formas de dominação era representada por uma espécie de aparelho que todos tinham em suas Oikas - o Hipnos. Os Egões, que controlavam o tal aparelho, queriam que todos os habitantes de Mônada fossem iguais em pensamentos e objetivos, por isso era sua intenção que em todas as oikas houvesse um hipnos para cumprir tal finalidade. Esse aparelho impedia-os de pensar direito, até mesmo de se olharem. Ficavam todos olhando para o hipnos, que transmitia uma doença desconhecida entre nós: a aquisitite induzida ou consumite compensatória, cujo sintoma era a verborragia superficiosa. Até a nudez e a procriação eram complicadas e cheias de mistérios - só para gerar mais confusão e desentendimento entre eles.

O trabalho era sacrifício e o amor, pecado. Hipnos também transmitia mensagens diretas ou indiretas, para que todos quisessem Ter mais e mais o tal din. E como muitos começaram a usar artifícios ilícitos para conseguir din, os Egões estipularam regras, de modo a parecer que todos os Egs tinham os mesmos direitos. Só que essas regras, por serem feitas pelos Egões, beneficiavam sobretudo a eles mesmos. Todos os Egs eram muito doentes, porque existiam alguns Egões que envenenavam a própria comida - eram os Agrocômicos. E, para curar esses envenenamentos, existiam os Egões que estudavam só para esse fim: eram os Remendadores ou Medegões. O Medegão que remendava o dedão do pé não sabia remendar o dedão da mão e vice-versa. Quanto mais títulos um medegão ou agrocômico tinha na frente do nome, mais din ele ganhava: Dr. Phd, Ms,etc....

Entretanto, os Egs não sabiam que existiam outros seres que também eram vivos - os Grandes Irmãos. Ninguém percebia que eles eram vivos, porque todos estavam muito ocupados em ganhar din, através deles. A ganância dos Egs estava matando os Grandes Irmãos... Tér, por exemplo, agüentava as máquinas pesadas que o cortavam, os produtos químicos que jogavam em cima dele, ou a retirada de sua pele verde. Agu era o que mais sofria. Tudo o que não se usava para gerar din era atirado nele. Chegaram ao cúmulo de lhe atirar fezes.

Agu estava bravo: "Dei o melhor que pude - agora morro... primeiro vou feder bastante para que vocês percebam. Será meu ultimato. Todos tiveram chance. Não ouviram. Pagarão caro a bebida da vida, que antes era dádiva de Deus; até eu, que outrora fui cristalino, cheio de vida, estou morrendo... A Irmã Invisível, como sinal de revolta, foi deixando soltos no ar todos os gases venenosos que recebia. O irmão Múu era impiedosamente morto a marteladas e, na hora da morte, lançava na própria carne todas as sensações daquele momento: o medo, a ira, a revolta e a angústia - assim, os Egs que o devoravam assimilavam tudo aquilo: era uma espécie de vingança. A morte, as doenças e os desastres chegavam sutilmente a todos os cantos, mas os Egs não percebiam a revolta dos Grandes Irmãos. A fome e a miséria cercavam Somorra e Godoma.

Quem mais sofria, geralmente eram os Eguins. Todos esses acontecimentos, porém, foram insuficientes para despertar os Egs do seu egoísmo. Tampouco entendiam a linguagem dos Grandes Irmãos, que eram os terremotos, as enchentes, as secas, as epidemias, etc. Então os Grandes Irmãos se reuniram, convocaram o Grande Engenheiro e disseram: "Senhor, os Egões estão nos matando, eles não entendem nossa linguagem, teremos que destruí-los ou eles nos matarão." Mas o Grande Engenheiro, além de justo, era senhor de todo o amor e resolveu dar uma oportunidade aos habitantes daquele pequeno planeta longínquo. Disse: "Vou fazer nascer entre os Egs seres que viverão em harmonia com vocês, Grandes Irmãos. Eles tentarão ensinar que a vida se realiza através do amor, do respeito e da gratidão por todas as criaturas. Saberão que o planeta é uma grande orquestra, onde todo ser vivente, por menor que seja, é tão importante quanto qualquer outro. Eles serão simples, humildes e não se interessarão por din. Serão felizes, mesmo sem ele. Farão com que todos os Egs ouçam as palavras: Simplicidade, Justiça, Sorriso e Amor. Esses novos seres chamar-se-ão Ams."

 (...)Entretanto, os primeiros Ams foram cruelmente maltratados e ridicularizados. Diziam os Egs: "amor ao próximo? Simplicidade? Vocês estão é drogados, seus vagabundos." Mas os Ams insistiam: "Tudo no planeta é interligado e interagente. O verdadeiro tesouro não pode ser roubado, nem enferrujado, nem sofre desajuste monetário - busquem primeiro o reino da paz, depois o resto virá por acréscimo. Sejam livres: quanto menores as nossas necessidades, maior a nossa liberdade. Vejam os Irmãos Voadores, que não plantam nem enceleiram, porém o Grande Engenheiro não lhes deixa faltar nada - acaso somos inferiores a eles? "Chega. Chega", gritavam os Egs, que não queriam ouvi-los: "vocês estão drogados". Dizendo isto, espancavam os Ams. Chegaram ao cúmulo de pendurar um deles num pedaço de pau.Irados com esse acontecimento, os Grandes Irmãos se reuniram novamente e convocaram o Grande Engenheiro. Disseram-lhe: "Senhor, infelizmente achamos que devemos eliminar os Egs do planeta - permita-nos cumprir essa limpeza."Novamente o Ser Supremo deu prova do seu imenso amor, dizendo: "Desta vez, os Ams serão exemplos vivos da Verdade Única.

Eles sairão de Somorra e Godoma e viverão junto à Irmã Verde. Daqui a algum tempo vocês poderão separar o joio do trigo." Os Ams eram como uma grande família. Entre eles existia uma verdadeira união; viviam alegres e sorridentes. Achavam que um corpo saudável, através duma alimentação natural, teria saúde e, tendo saúde, eram felizes e, tendo felicidade, não precisavam do tal din.O irmão sol ensinou-lhes como cozinhar os alimentos sem precisar cortar as Irmãs Árvores; a Irmã Invisível movia cataventos que moíam cereias, bombeavam a água e geravam a luz. O Irmão Agu trabalhava com prazer para eles. Ele girava rodas enormes, que eram ligadas a serras circulares, nas marcenarias dos Ams . Não conheciam a palavra explorar, matar. Antes de cortar determinada árvore, eles plantavam três ou quatro da mesma espécie. Cortavam somente quando era necessário, e respeitavam muito cada uma delas. Havia todo um ritual para cortá-las, sabiam da importância delas na sinfonia do equilíbrio do planeta. Parte do ano era dedicada a plantar, a cuidar da plantação e à colheita, mas a maior parte do ano era dedicada à apreciação da arte e da cultura, à meditação e ao aprendizado com os Grandes Irmãos.

Uma das lições que eles mais gostavam era ensinada pelos Irmãos Pássaros, e dizia: "Quanto menos a gente tem, mais leve a gente fica, mais alto a gente voa e mais longe a gente vê". A Irmã Semente dizia: "Todos vocês são deuses por dentro, assim como dentro de mim existe um pomar." A Irmã Flor dizia: "Quando a vaidade e a ambição se aproximarem de vocês, lembrem-se de mim. Sou bela e feliz e para isso só preciso de um pouco de água, de sol e de ar." O Irmão Tér ensinava a plantar: "Devolvam-me tudo o que não usarem para comer, os pequenos irmãozinhos do chão farão com que tudo se torne adubo, outra vez. Observem, é um ciclo, os restos de uns são alimento de outros." A Irmã Verdade ensinou: "Nunca minta. Quando chegar o momento em que isso acontecer, diga ao cego: "Você enxerga", e ele enxergará; a montanha: "Atire-se ao mar", e ela cairá ao mar. Simplesmente porque você não mente." O Irmão Lago disse: "Observe o reflexo do sol quando minhas águas estão calmas. Assim também é o reflexo do Ser Divino que jaz dentro de cada um de vocês, quando as mentes estão calmas". E outras lições os Grandes Irmãos ensinavam aos Ams.Lá, em Somorra e Godoma, os Egs contraíram uma nova doença: a "compliquite complicosa". Essa doença fazia tudo parecer mais complicado. Nenhum Eg entendia o simples, o belo. Era tudo assim: "A maior usina do mundo", ou energia nuclear, ou complicadas cirurgias para extirpar um sintoma.

Como a vida dos Egs era muito sem sentido, apareceram muitos falsos profetas que enganaram até alguns Ams . Seu lema era "Toxi - magi - sex". Prometiam a consciência cósmica, mas só chegavam na inconsciência cômica. Diziam: "Disciplina é coisa ultrapassada. A moda agora é a libertinação dos instintos reprimidos, desbloquear, se iluminar fazendo a coisa que mais gosta... vale tudo." Começaram até a usar armas nucleares, que diziam que servia para curar a dor de dente. "Que maravilha o uso pacífico da bomba atômica", diziam.Numa dessas explosões "pacíficas", o céu e o sol ficaram encobertos por uma enorme fumaça, como a de uma enorme fornalha. Dessa fumaça irromperam gafanhotos dotados de poderes semelhantes aos escorpiões da terra. Foi-lhes dito que não picassem nenhum dos Grandes Irmãos e nenhum dos Ams , porque eles traziam na fronte a marca de Deus...

QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA.

 Extraído do Manual de Agricultura Natural, de Hiroshi Seó.Ed. Cultrix.

 'UNIDADE DA VIDA' de EDSON HIROSHI- 1997

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