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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Salas Ocultas No Coração

O coração tem aproximadamente 400g e é dividido em duas metades, cada uma contendo duas câmaras, separadas por duas válvulas e está localizado no meio do peito. Não exatamente no meio, porque está ligeiramente deslocado para  a esquerda. No entanto, existem outras partes deste órgão que não são visíveis ao olho nu. Não são visíveis em raio x e nem por microscopia. Dizem, não oficialmente, que quando o homem pensa, os pensamentos passam por dentro do coração, através destas salas invisíveis. Numa dessas salas está um espaço para sentir angústia. É uma sala pequenina, mas tão pequenina que se assemelha a um buraco negro de tal densidade que parece sugar tudo pra dentro dela. É por isso que quando os pensamentos das pessoas se aproximam da sala da angústia sente um aperto no peito. Um aperto físico mesmo, como uma dor que faz colocar a mão no meio do osso esterno e chorar. Outra câmara está relacionada com a ansiedade. Parece que dentro dela toca uma escola de samba. É até diverti

O OBSERVADOR DE MAUNA (o silêncio)

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O OBSERVADOR DE MAUNA (o silêncio) Fabio Teixeira Retirei-me do dia para observar o silêncio que havia na mata que andei de pés descalços e corpo cru, na água que entrei de pele gelada e coração duro, na pedra que sentei de pernas cruzadas e destino também. Gritei para a mata uma súplica, uma prece. Falei com a água uma mágoa, um rancor. Berrei na rocha uma dor, uma trégua. O eco repetiu o inesperado: Silêncio... Silêncio... Silêncio... Quanto mais eu gritava mentalmente, corpo imóvel. Quanto mais eu rangia articularmente, corpo imóvel. Quanto mais eu temia emocionalmente, corpo imóvel. Mais alto o eco se fazia: Silêncio... . . . . . Mais uma vez tentei de forma ardente, queixar-me do destino. Da vida, das coisas, das contas, das troças, das traças. Mais uma vez tentei preencher forçadamente os pedaços que faltavam porque faltam pedaços dos pedaços. Cruelmente era a única resposta que tinha: Silêncio. Silêncio

Flor do deserto

Num campo distante e árido, certa vez brotou uma flor amarela, que te tão bela, tão discrepante, sentia-se solitária. Tinha pétalas longas e ovaladas, num total de oito, com um friso central levemente verde e micro-capilares quase invisíveis ao olho bronco. Não tinha de altura nem mais que um palmo bem esticado e, no entanto, havia duas folhas em seu caule, folhinhas verdes e de textura aveludada. Nasceu no meio da pedra e da areia como se ali houvesse água, como se fosse úmido. Já nasceu desabrochada com pólen dourado respingando em seu miolo. Não conhecia ainda as abelhas, os beija-flores, não conhecia nada. Aquele solo árido era tudo que sabia. Certa noite, tomada de solidão sentiu-se feia e quis fechar-se em botão. Forçosamente tentou dobrar suas pétalas, mas o vento suave era suficiente para delicadamente reabri-la. O vento ria de seus esforços. Desalentada percebeu que a noite estava clara, de tão clara que estava a lua cheia. Nem percebera o barulho dos passos de