Aceitação e mudança
Aceitação e mudança
(Fabio Teixeira)
Em meditação, vislumbrei algo inusitado. Imaginei que os
seres humanos acordariam um dia e subitamente estariam ligados novamente à sua
alma gêmea, que a milhares de anos foram separadas pelos deuses, retroagindo ao
mito do ser andrógeno.
No contexto contemporâneo,
capitalista, individualista, narcisista, imaginei o drama que isto causaria.
Quem és tu que és em mim algo
diferente do que sou?
Não te suporto.
Não suporto sentir-te tão em mim,
tão eu sendo eu-outro.
E é essa a desgraça imposta sem
misericórdia divina.
Saber-te tão eu em tantas coisas;
Tão parecido comigo;
Tão igual, tão coerente, tão
sintonizado.
Tão querente de igualdades e
sonhos;
Mas reciprocamente...
és outro.
Outro.
Esse é meu-seu pecado.
Não há mais deuses pra nos
separar.
Os deuses morreram pelo que
dizem.
Coexistem em mim amor e ódio por
ti que sou eu mesmo.
Amo-te por ser eu e odeio-te por
não te reconhecer.
Antes como homem e mulher era
fácil construir o amor e o ódio.
O erro e o acerto, o bem e o mal,
o masculino e o feminino.
Era fácil dizer o que o homem
tinha de fazer ou o que a mulher deveria.
Agora somos eu e tu-eu.
Não posso culpar-me sem culpar-te
Não posso perdoar-me sem
perdoar-te
Não posso amar-me sem amar-te.
Não sei se darei conta do fardo
de abandonar o ego.
Ajuda-me.
Essa é a única esperança e também
a armadilha derradeira.
Dizendo isso, calou-se esperando
em silêncio a resposta...
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