Entre Quatro Paredes
Entre Quatro Paredes
Direção: Rô Gontijo
Elenco:
Garcin: Roberto Cunha
Garcin: Roberto Cunha
Inês: Arlene Vieira
Estelle: Berta Drumond
Criado: Daniel Reis
Quando era estudante de
psicologia na faculdade Newton de Paiva, participei de uma disciplina que se
chamava Mitologia e Tragédia, onde estudávamos obras literárias e mitologia,
apresentando o objeto de nossos estudos em forma de peças teatrais, sobre a
orientação da Professora Rô Gontijo.
Ontem
tive o prazer de retornar à faculdade para assistir ao grupo teatral Mitologia
e Tragédia, que agora aparece com um novo formato. Não é mais uma disciplina da
grade curricular e, pelo que entendi, existe devido aos esforços conjuntos dos
próprios participantes.
Um
esforço em apresentar a psicologia na forma de arte.
Admito
que até hoje não li na íntegra o texto original. Mas já conversei tanto e
tantas vezes sobre seu conteúdo que sinto como se o tivesse lido.
“Então, é assim”. O texto começa de forma conclusiva,
anunciando a situação contingencial que os personagens são lançados. Uma salão
quente do segundo império, alguns móveis e uma estátua de bronze, escadas e
portas que levam para lugar algum. Sempre que falo disso metaforicamente
remeto-me à condição humana de ser lançado num mundo pré-existente, vazio de
sentidos para um recém-chegado.
Os
atores trouxeram um texto recheado de construções simbólicas, ocultas em sua
aparente normalidade. Eu particularmente acho fenomenal, não no sentido
fenomenológico, mas no sentido de ser maravilhoso, algumas características específicas
que citarei abaixo.
Não
é possível apagar as luzes, não é possível fechar os olhos e nem tapar os
ouvidos. Imagine-se sob a luz da consciência o tempo todo e quão insuportável
isto seria. Lembrei-me de uma amiga que almeja ser 100% lúcida e eu sempre digo
que ela está equivocada sobre a noção de paraíso. Como as pálpebras não se
fecham, nem mesmo o alívio de um piscar de olhos, “um relâmpago negro” pode
refrescar a consciência.
Confinados
num mesmo espaço, Inês, Estelle e Garcin não têm espelhos para olhar a própria
imagem, enquanto Inês oferece a si mesmo como espelho para Estelle. Acho isso
fantástico: o outro se tornar o espelho.
Isso é construído posteriormente no texto quando Garcin aponta em Inês a
sua própria covardia oculta.
A
questão em si não é a luz da consciência. É que o inferno seria a luz que
ilumina sua consciência a ponto que o outro possa ver e que você tenha de ver a
consciência do outro. As experiências ocultas nas paredes do corpo agora
expostas nas paredes do salão.
Estão
submetidos ao inferno do outro, independente de terem em suas vidas crimes e
virtudes. O inferno não necessita de carrasco, pois notoriamente são carrascos
de si e dos outros. Temas como a existência do acaso, escolhas, desejo e
possibilidades são entrepostos nas ações.
A
porta do salão se abre e eles simplesmente não são capazes de sair. Afinal,
para onde? Para um outro “outro”, para outro salão, outra escada, outra porta.
O inferno tem mesmo esta característica da repetição.
O
grupo Mitologia e tragédia conseguiu trazer as mensagens Sartreanas com certo
humor e angústia.
Agradeço
a meus amigos pelo convite, é sempre uma alegria ver psicólogos ampliando os
fazeres da psicologia através da arte.
Parabéns!
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