DRIKA
DRIKA
Algumas observações após assistir o espetáculo.
Autores: Henrique Limadre, Luiz Felipe Davila, Paolo
Mandatti | Diretores: Henrique Limadre, Luiz Felipe Davila, Paolo Mandatti |
Elenco: Henrique Limadre, Luiz Felipe Davila, Paolo Mandatti | Produtor: Teatro
171 | Figurinista: Paolo Mandatti | Iluminadora: Marina Arthuzzi | Trilha
Adaptada: Henrique Limadre, Luiz Felipe Davila, Paolo Mandatti | Técnico: João
Santos | Assistência em Glamour: Marina Viana | Blog:
www.everybodylovesdrika.blogspot.com |
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A chamada para o espetáculo: “Um Gay stand up” já avisa
que a linguagem em cena seria própria do universo gay. Constroem o anúncio da
morte de Drika que traz dois personagens imaginários, a bicha ONG, do passado e
a bicha 3G, do presente.
Isso já me chamou muito a atenção
por um fato simples. O presente é que normalmente poderíamos aludir como real,
enquanto o passado e o futuro estão relegados aos planos da memória, dos
sonhos, idealizações e da imaginação. A
percepção do momento presente geralmente é a forma de conhecermos o mundo
enquanto fazemos as projeções imaginárias para as outras duas instâncias da
existência.
Drika subverte as dimensões
temporais, passado-presente-futuro. Não trouxe ao seu momento atual o passado e
o presente para tentar se salvar da morte anunciada, mas para constatar que a
sua existência, mormente futurística, sempre aconteceu na linha do tempo.
É inconcebível percebermos toda a
história de uma vez só. A existência é como uma linha horizontal e o foco, é
sempre um fragmento desta linha que se estende ao infinito. A percepção da
totalidade faz com que o real seja somente um momento, apontado para uma destas
dimensões.
É por isso que Drika sempre
existiu, mas ela só se dá conta disso na presença do ponto culminante da linha,
a morte. A morte como delimitadora da vida, como um anúncio da finitude
evidencia a horizontalidade da vida que não se estende mais ao infinito, pois
vai acabar. Essa é uma das maravilhas de tomar consciência do fim. Vemos a vida
de uma forma vertical, centrada numa dimensão temporal, mas a noção de fim nos
permite um anteparo para observamos a totalidade horizontal.
Definitivamente o universo gay
não é um universo paralelo. É um universo da própria humanidade, atuante,
crescente. Não nos damos conta disso justamente pelo fenômeno da percepção
vertical da realidade. De uma maneira política e com um humor crítico, o texto
de Drika aponta algumas formas que este universo é socializado. As Drikas
estão, estiveram e estarão sempre ao nosso lado, compondo e criando a história.
O texto é rápido e veloz, se o
público perder um instante, perdeu a piada ou o ensinamento. Fez-me pensar na
velocidade do próprio tempo.
Drika vem com seu corpo quase
Robótico, precisando recarregar-se de baterias luminosas. E quando balança a
cabeça eu admito que vi com todo o esplendor virtual seus longos cabelos loiros
inexistentes se moverem enquanto ela “batia o cabelo”. Adorei isso.
A linguagem utilizada não é
convencional, nem fácil e nem clara. Mas, pensando bem, quando que se comunicar,
socializar formas de existir diferentes foi fácil mesmo? Em cena recursos
multimídia. A palavra dá lugar à imagem. Não poderia deixar de ser assim,
porque a comunicação humana parece caminhar para um ponto onde a imagem é que
carreará a mensagem. Não sei se isso é bom ou ruim, Mas Drika já aponta para o
seu lugar, o futuro.
Numa complexa e poética forma de
morrer, Drika comete a autofagia da luminosidade. Morrer engolindo a própria
fonte de vida, talvez um sinal de que não vai deixar de existir.
Mas a minha impressão sobre o
espetáculo é que, como Drika, esta peça é para o futuro. Mas o futuro está
chegando cada vez mais rápido.
Fabio Teixeira
Fabiozen.blogspot.com
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