BUKOWSKI-ME!
Foto: Catarina Paulino |
BUKOWSKI-ME!
(Texto livremente inspirado na poesia e prosa de Charles Bukowski: Crônica de um amor louco, Mulheres, Misto-quente, Notas de um Velho Safado, O amor é um cão dos Diabos, Textos autobiográficos & Pedaços de um caderno manchado de vinho)
(Texto livremente inspirado na poesia e prosa de Charles Bukowski: Crônica de um amor louco, Mulheres, Misto-quente, Notas de um Velho Safado, O amor é um cão dos Diabos, Textos autobiográficos & Pedaços de um caderno manchado de vinho)
Dramaturgia
e direção: Cynthia Paulino
Fiquei com
muitas indagações após assistir “Bukowski-me” na 26a mostra de
trabalhos da Escola de Teatro PUC Minas. Somos frutos do meio que vivemos? Até
que ponto nossas histórias são reflexo do ambiente à que pertencemos? O que significa moralidade, vivendo num mundo
corrompido? Como salvar nossa alma, salvar nossa pessoa de não ser objeto
absoluto da construção mundana e tornar-se si mesmo?
Pensando
em como alguém se torna uma pessoa, considerei algumas coisas. Primeiro que o
homem nasce no mundo, não há como negar a situação fatídica de ser homem ou
mulher, nascido nesta ou naquela família, naquele estado, país, naquela
conjugação política e naquele contexto social, histórico, temporal, quiçá
cósmico, galáctico e universal. O homem é jogado assim num mundo pré-existente,
independente de sua vontade. Já recebe um mundo pronto que o acolhe com
tendência formatadora em moldes antigos. Foi assim com Bukowski e é assim com
todos nós. As condições em que efetivamos a formação de nossas personalidades é
significante e intensa, dando premissas básicas que forçam logicamente a uma
segunda consideração sobre o Eu.
Este
mundo pré-existente confronta-se com o Eu criando um dilema. Eu sou isso que o
mundo me propõe? Daí surgem perguntas fundamentais que tornam o homem, humano:
Quem sou, de onde vim e para onde vou. Digo até sem muito temor que as escolhas
são, mais que o ambiente antecessor, decisivas para o destino a partir de um
ponto em que se encontra. Ressaltando as palavras atribuídas a Sartre “O que
vou fazer com o que a vida fez de mim”. Imagino que todo a miséria e
sofrimentos infringidos à Bukowski desde criança, todas humilhações e
desgraças, litígios e promiscuidades em que se envolve foram importantes para
ser quem ele se tornou, mas não é só isso.
Neste ponto
pensei que também não existe escolha correta. Existem escolhas. Quem diz que ao
escolher a bebida, a vida mundana, o sexo e o lado obscuro do humano não é uma
forma de salvar a alma? Se Bukowski nascesse numa família amorosa seria outra a
história. É imprevisível e torna-se imprudente cogitar um outro caminho. Na história
que eles construiu, com tudo que lhe açoitou as nádegas, sentou em cima de suas
feridas para escrever. Achou na escrita seu caminho. Tosco, torto e tortuoso,
mas definitivamente foi o seu caminho. Bukowski é Bukowski porque foi assim que
aconteceu.
Este
espetáculo de direção de Cynthia Paulino traça, entremeado por textos esparsos
do próprio autor, com idas e vindas ao passado e futuro, o caminho de construção
de um escritor que prefere a escória, os desajeitados, feios, prostituídos e
exilados do convívio social. Diga-se de passagem, que estas pessoas desabilitadas
da “normose social” eram os preferidos de alguns mestres espirituais que
passaram pelo planeta.
Concluo que não adianta alguém
passar por sofrimentos para ser um Bukowski. Apanhar na bunda com varas de
marmelo te deixará cicatrizes, mas não fará você costurar um destino brilhante.
Ele se construiu a partir da realidade que já era desde o começo e isso é o
brilhantismo que se espera para qualquer existência. O brilhantismo de Ser-si-mesmo.
Por isso,
Bukowski-me, sim senhor.
Fabio Teixeira
Comentários
Vygotsky escreveu que o indivíduo não pode ser compreendido dissociado do contexto social. Para ele a formação do sujeito se dá numa relação dialética entre este e a sociedade a seu redor. O ambiente modifica o homem e o homem modifica o ambiente. Nos tornamos quem somos, não só pela nossa genética, mas, muito mas pelo nosso contexto social e pelas escolhas que fazemos. Abraço!