A primeira vista.








A primeira vista

Ficha técnica:
Texto: Daniel Maclvor
Direção e iluminação: Luiz Arthur
Teoria e Pesquisa: Cynthia Paulino
Preparação vocal: Raisa Campos
Preparação corporal: Dulce Beltrão
Maquiagem: Mauro Gelmini
Figurino: Mauro Gelmini e elenco
Trilha Sonora: Bugu e Luiz Arthur
Operação de luz: Gustavo Freitas
Montagem de luz: Marina Arthuzzi

Elenco: Cleber Moraes / Eugênia Granha/ Flávia Carneiro/ Helen Gomes/ Henrique Cardiel/ Jamile Alves/ Lucas Hermuch/ Marcus Nery/ Mariana Siha/ Mônica Teles/ Nicole Lima/ Paulo Barroso/ Renata Rocha/ Rossini Luz/ Sérgio Alves/ Bugu Reis/ Viviane Gomes/ Wesley Pereira/ Fernanda Bontempo



Uma peça em relação.

“A primeira vista” pode ser pensado como aquele momento quando os olhares se encontram e já é o suficiente para construir toda uma história, uma situação, uma idéia, uma idealização. O primeiro contato é constituído de algumas características básicas: é preenchido anteriormente pela história pregressa, individual, contextual, no que se refere a cada integrante do encontro, enquanto presentifica o choque dos fatos anteriores com as expectativas. Nenhum encontro é vazio, nunca parte de um ponto neutro, não há neutralidade. Os atores em cena trouxeram este ponto para as cenas. A cada ato havia a não neutralidade, o não vazio. Pelo contrário, cada encontro foi cheio de coisas não ditas, imagens situacionais que popularam minha imaginação. Exatamente isso, foram cenas ricas de coisas não ditas, de nuances corporais que dizem tudo numa relação entre duas pessoas, no meio de diálogos truncados, às vezes monossilábicos ou mesmo monologais. Foram recortes de historias que eclodiam em encontros divertidos, sensuais, loucos ou tensos, enquanto cada casal buscava afirmar-se na relação. “Casal? Casal de quê?” Eu ri muito deste questionamento feito pelo personagem. As pessoas são diferentes em seus gostos, idéias, sabores e “quereres”. Mas o vão da diferença é o que deixa a margem para a idealização e para o surgimento do monstro, no caso, o urso. Quanto mais avançam na proximidade, no conhecimento mútuo, na diminuição das diferenças mais se aproximam da morte. A morte aparece como um lugar tranqüilo, calmo, um lugar sereno com um lago plácido. Estar em relação é estar vivo, em movimento. É estar oscilando entre o equilíbrio dinâmico e o conflito. É por isso que não dá pra saber de tudo, conhecer tudo do outro e nem se mostrar completamente. Isso seria morrer. Seria deixar o monstro das semelhanças engolir as diferenças. Tem de haver espaço pra saudade, para o nada, para vazio, para a angústia e insegurança. Em cena foi isso que vi. Verdadeiras relações de desiguais, explicitadas pelas diferenças visuais, corpos e formas, sexos, cores e tamanhos. No entanto, como diria Khalil Gibran: “aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.”. Foi um espetáculo muito gostoso de assistir e quem está em relação se identifica com estes desiguais.

Foi também uma alegria acompanhar a maioria destes novos atores desde os exercícios de primeiro módulo. Parabéns.

Fabio Teixeira

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