Solo(s)




SOLO(S)

FICHA TÉCNICA
Concepção / atuacão Izabel Stewart e Tana Guimarães Vídeo Xande Pires Música Kristoff Silva Colaboração artística João Saldanha Cenografia Joanna Sanglard Iluminação João Saldanha e Jésus Lataliza Produção Mariana Maioline e Elias Gibran Contadora Silvia Batista Figurinos Izabel Stewart e Tana Guimarães Agradecimentos João Saldanha, Espaço Estufa (Carol e Luis Felipe), Quick Cia de Dança, Paola Rettore, Gabriela Christófaro, Rosa Hercoles, Cia Suspensa e ong Primo
solosart.wordpress.com

FID 2012 – Fórum Internacional de Dança
TERRITÓRIO MINAS
LOCAL: FUNARTE MG – BH

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Eu gosto de assistir a espetáculos sem pensar demais anteriormente, sem ler as sinopses e sem saber informações sobre do que virá.  Neste caso específico obtive indicações de uma amiga em relação ao excelente trabalho destas bailarinas e isso já foi motivação suficiente para me aventurar como platéia.


Antes de dar minhas impressões pessoais e afetivas, antes de dizer o que me tocou no coração, quero falar de uns aspectos teóricos que surgiram durante a performance.


Duas bailarinas ocupando um mesmo palco, mas dançando suas experiências aparentemente de forma individual.  Heidegger, em sua obra “o ser e o tempo” retrata aspectos da existência humana no que tange a solidão. O homem seria este ser, que ao ser jogado no mundo à sua própria sorte se depara com uma realidade. O homem é só. O mundo está aí, todas as coisas estão aí, todos os outros estão aí também jogados no mesmo mundo que habita. São estes Seres-aí, lançados no mundo.


Ocupam o palco, modificam os objetos, transformando o chão que pisam em diversos cenários de uma forma surpreendente, inesperada. Ao ser lançado no mundo, o homem passa a existir. O mundo é prévio, já existia anteriormente à existência deste Ser aí lançado. Na presentificação humana o mundo é transformado, enquanto o Ser adapta-se, molda-se ao próprio mundo que construiu. Assim foi com a dança, numa bela interação de bailarina e cenário, assim como o ser e o mundo. Passam a existir como Seres-aí-no-mundo.


Mesmo quando ocorre algum encontro das bailarinas, ainda torna-se evidente o distanciamento das experiências. Ser-no-mundo-com-o-outro, não garante o encontro verdadeiro, o encontro entre dois seres.


Esse é o fundamento da solidão. Ninguém, por mais próximo que seja poderá experimentar a vida que pertence a cada Ser existente. Dentro de seu mundo, dentro de sua pele, dentro de sua existência só existe Si-mesmo. Ser-si-mesmo-no-mundo-com-o-outro, aceitando a solidão que te pertence seria um sinal de autenticidade.  Esta aceitação traz o Ser existente para uma experiência mais verdadeira com o mundo e consigo, não negligenciando a sua condição de isolamento e nem a condição de presença no mundo compartilhado.


Achei muito coerente o titulo solo(s), que li depois na sinopse, retratando o solo como chão (mundo), e também o solo como solidão, o fato de estarem sós. Mas o que mais me chamou a atenção é que o próprio título faz uma alusão à pluralidade com o sufixo “(s)” adicionado. Solos, um lugar no mundo onde as solidões podem se encontrar. O encontro das solidões humanas torna a vida mais suportável, traz algum sentido para a existência.


Enfim, adorei, achei uma dança simples, surpreendente, tocante. Enquanto Ser-aí que sou também, me senti transformado um pouco mais, me senti feliz por ter vivido estes momentos belos e emocionantes que a arte propicia. 


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