AMORES
Peça teatral Amores
Direção: Shelmer Gvar
Preparação vocal: Camila Rezende
Músico: Thiago de Matos
Grupo Teatral Epoché
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Algumas observações após assistir ao espetáculo
Fui convidado por queridas amigas a assistir a uma peça
intitulada “amores” no teatro Marilia. Não fazia a menor idéia do que se
tratava além da percepção óbvia que o nome me passava e por ser uma temática
inesgotável resolvi arriscar-me. Eu particularmente gosto de agir assim, vou
sem expectativas, sem conhecimento prévio e com uma atitude que os orientais
chamariam de “vazio” frente ao que acontecerá.
Antes do terceiro sinal, no palco haviam pessoas usando
roupas comuns, andando pelo palco de forma uma tanto desordenada, ora
agrupando-se, ora de maneira individualizada, utilizando eventualmente cordas
para determinados tipos de alongamento e movimentações. Alguns atores aparentam
dificuldade de se deslocar e percebo que são deficientes visuais.
Abstrair-se dos juízos de valor e observar o mundo da
forma que ele se apresenta é uma atitude fenomenológica que demanda prática,
esforço e um tanto de abdicação egóica. Husserl chamou isso de redução
fenomenológica, uma atitude natural de observar e captar o que há de
ontológico, a essência do fenômeno que
se apresenta.
Após muitas leituras, práticas e elucubrações, até o
momento ainda temo que a essência do mundo, a concretude, o real seja
inapreensível. Podemos reduzir, aproximar, mas não captar a realidade pura.
Captamos a realidade de forma visual, sonora, tátil, olfativa ou gustativa, mas
tudo vem eminentemente carregado de cultura, de valores e principalmente de
linguagem. Damos nomes às coisas do mundo e ao nomeá-las já afastamos o real da
realidade primeira para aproximar a coisa da minha experiência pessoal.
Eu diria que vemos o mundo de forma preconceituosa, no
sentido de que o conceito de mundo às vezes aparece antes de vermos o mundo
propriamente dito como se mostra. Acho que me deparei com um questionamento
novo para mim: é o mundo que se mostra ou nós que vemos o mundo? Bom, pensarei
sobre isso posteriormente.
A peça apresenta algumas formas de manifestar o amor.
Laçaram mão de uma ferramenta fundamental para falar do amor, a música e a
poesia. A atitude sonora e poética por si,
já fomenta visões alteradas da realidade, abrindo portas e janelas para
ver para além das paredes que encerram a atitude prosaica. O homem comum
perde-se na visão estereotipada e congelada que cria culturalmente, como a
imagem mental que temos do cego, do ladrão, do assassino, da mãe, da cantora,
da fã.
A fã ama, mas seu amor é desvairado e obsessivo. O ladrão
mata, mas diz ter o coração bom; a produtora é dura na sua função, mas
desmorona frente suas próprias emoções; os amores que se encontram não tem
coragem de largar o passado e então se separam; a mãe tem um amor terno e
apaziguador, mas sem saber dizer os “Nãos” limitadores que ao amor
necessita; a artista que canta
ensimesmada sobre o amor, mas aparentemente mal sabe da vida ao seu redor
enquanto fica à espera de um amor que vai chegar.
Retrocedendo para antes de entrar, na fila do lado de fora
fui interpelado por uma atriz que me solicitou frases sobre o amor. Na hora não
pude dizer nada, porque o que me veio em mente sobre o amor naquele momento,
poderia parecer duro demais.
Queria dizer que o amor também é inapreensível. Não acho
possível captar o amor em sua essência e tudo que se fala do amor, pode estar
carregado de preconceito. Seguindo o meu raciocínio, o amor existe antes das
palavras que dizemos. Ao serem proferidas, as palavras trazem tudo que vivemos
acerca do amor e então podemos perder a chance de ver o amor que está aí,
esperando para ser vivido.
Antes de serem atores, são pessoas e antes de serem
pessoas são humanos. Eu tentei ver esses atores em cena, com esta atitude
fenomenológica. Cada ator no palco, independente da qualidade da atuação, da
habilidade cênica ou musical, eu vi pessoas trazendo suas experiências e tendo
coragem de se colocar frente ao público e mais ainda, contar uma história.
Talvez um tanto de suas próprias histórias.
Se eu fosse dizer tal frase agora, após assisti-los seria:
“Pare de falar sobre o amor. Ame. E talvez, as palavras
surjam naturalmente da experiência concreta de amar”.
Fabio Teixeira
Fabiozen.blogspot.com
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