A Carta de Despedida

Enfim, Peter sentou-se em frente ao mar. Aquele fim de tarde estava especialmente delicado, com o sol empurrando as nuvens para poder se encaixar no horizonte. Nada era mais propício para escrever uma carta de despedida. Estava determinado. Colocou a mão cerrada sobre os lábios, tomou coragem e sacou o lápis velho da bolsa de couro e seu caderno de anotações. Hesitou um pouco enquanto olhava para suas mão com aqueles objetos de execução, tal como faria um carrasco, se houvesse um com sentimentos. Procurou uma página em branco no caderno surrado e arriscou um título: “Minha querida”; mas logo percebeu que não fazia sentido algum começar uma carta assim. Riscou tudo e colocou logo abaixo. “Carta de despedida...”. Aquelas reticências involuntariamente pontuadas puxaram um suspiro profundo e dolorido. Pensou em fechar o caderno e voltar pra casa, mas o peso do sol poente impedia seus ombros de erguerem-se. Peter sentia naquela hora dores no corpo e coceiras na cabeça e...